24 de outubro de 2014

Introdução

É um pouco difícil caracterizar o início da Horta do Dojo Murakami de Caparica, visto que, na realidade, a "horta" deve ter tido início há cerca de 12.000 anos atrás, com a chegada da agricultura ao território Português. A mistura de culturas que a têm cultivado cunharam-na como um horta riquíssima em termos de diversidade e produtividade, não só pela vasta gama de produtos hortícolas que tradicionalmente são cultivados como também pela qualidade do solo, resultante dos saberes tradicionais e do trabalho sobre a terra.


A cultura Portuguesa da região da Caparica, resultante da fusão de todos os povos que a ocuparam ao longo da história, cruzou-se, ao virar do século, com a cultura Nipónica, dando origem a um dojo de artes marciais e, por sua vez, a uma horta inspirada na sua filosofia e nos seus modos de vida. Os conhecimentos milenares acumulados ao longo do tempo, típicos de todos os povos que a têm vindo a cultivar, e a filosofia oriental que tão bem complementa a vida no ocidente, vieram contribuir não só para o acumular dos conhecimentos práticos que foram transmitidos de geração em geração, como também para o despertar de conhecimentos intuitivos que têm vindo a ficar guardados na memória colectiva do ser humano. É a partir do cruzamento entre estes dois tipos de conhecimento que a Horta do Dojo Murakami de Caparica renasce, no início do Século XXI.


É pretendido, com a Horta do Dojo Murakami de Caparica, preservar a prática de culturas tradicionais e cultivar parcelas experimentais segundo o método criado e desenvolvido por Masanobu Fukuoka (1913-2008). Para além da componente prática da horta, pretende-se também um acompanhamento técnico-científico, tirando proveito de técnicas e ideias desenvolvidas pelas ciências e pelas engenharias naturais. Uma caracterização ecológica e etnobotânica do local oferecerão a base literária para que futuros trabalhos possam ser realizados, e um inventário herborizado das espécies espontâneas complementará o projecto.


O envolvimento dos alunos e dos associados do Centro de Artes Orientais (CAO), da população local e de todos os interessados que se queiram voluntariar, mostrar-se-á fulcral para o sucesso da horta. Num concelho cada vez mais urbanizado e longe dos valores rurais que tão bem o têm caracterizado no passado, como o concelho de Almada, a existência de actividades baseadas no aproveitamento sustentável dos recursos naturais e na preservação dos saberes regionais mostra-se essencial não só para melhorar a qualidade de vida local, como também para melhorar a relação que temos connosco mesmos e com o mundo que nos rodeia - que segundo a visão oriental do mundo são uma e a mesma coisa.

1 comentário: